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O rali de fim de ano - processo de recuperação das ações nos últimos pregões de dezembro - é sempre uma grande discussão dentro do mercado. Desde 1998, em apenas dois anos o Ibovespa caiu nos últimos 45 pregões do ano, em 1998 e no ano passado. Uma parte das pessoas diz que existe, enquanto outros argumentam que isso não passa de lenda. Coincidência ou não, fato é que a alta da bolsa começou juntamente com o início do último mês do ano. Nos primeiros oito pregões de dezembro, o Ibovespa acumula alta de 6,58%. A recuperação ganhou força especial nesta semana, com uma valorização de 10,35% do Ibovespa. Independente do nome que se dê para esse movimento (rali, lenda, sorte, coincidência, reza brava), depois de tanto apanharem durante 2008 inteiro, os investidores estão bem felizes por conseguir tirar uma casquinha da bolsa, reduzindo ao menos em parte, mesmo que seja uma pequena parte, as perdas acumuladas até aqui.
Ontem, por exemplo, foi mais um dia de valorização. O Ibovespa subiu 2,73%, aos 39.004 pontos, a um passo dos 40 mil pontos - nível que alguns analistas acreditam que seja bem possível o índice chegar e, quem sabe, até ultrapassar um pouquinho antes do estouro dos fogos do réveillon. Segundo alguns analistas, essa recuperação recente da bolsa está sendo patrocinada principalmente pela volta de uma pequena parte do enorme fluxo de investidores estrangeiros, que passou os últimos meses batendo em retirada do mercado brasileiro. Os números da Bovespa, no entanto, mostram exatamente o contrário. Este mês, até o dia 5, o saldo líquido (diferença entre compras e vendas) de estrangeiro, está negativo em R$ 3 bilhões. Essa saída está sendo influenciada por uma operação específica com as ações da Anglo Brazil entre duas instituições financeiras, no dia 2, de cerca de R$ 2,8 bilhões. Se não fosse esse negócio, muito provavelmente o saldo seria positivo.
Esta semana, por exemplo, percebe-se um movimento de compra de ações de investidores internacionais, diz o gerente de renda variável da Modal Asset Management, Eduardo Roche. "Eles estão aproveitando as expectativas positivas com o novo governo americano de Barack Obama para fazer aplicações rápidas nas ações de primeira linha", diz Roche.
Essa procura é um dos motivos para os papéis de grandes companhias estarem se valorizando nos últimos dias. Só ontem, por exemplo, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras subiram 10,16% e as preferenciais (PN, sem direito a voto), 9,09%. Já as ON da Vale se valorizaram 6,84%, as PNA, 6,66%, enquanto as ON da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) tiveram alta de 6,71%. "Essas empresas têm apenas notícias negativas - como queda do preço do petróleo, perspectiva de uma grande redução do valor do minério de ferro no ano que vem e queda no consumo de aço no mercado internacional -; o que explica o desempenho positivo dos papéis é, de fato, o fluxo externo", explica o gerente da Modal Asset.
Roche alerta que, exatamente pelos fundamentos dos setores de commodities - muito dependentes do crescimento econômico mundial - ainda serem bastante frágeis, o investidor precisa ficar atento porque esse fluxo de entrada de estrangeiros tem grandes chances de ser algo passageiro. "Assim como veio, esse dinheiro pode ir embora e quem se apoiou nessa volta para continuar na bolsa pode ficar a ver navios", completa Roche.
Rotação de carteiras
Enquanto as ações de commodities lideram as altas, as de telefonia e energia elétrica vão para o lado oposto. Como os papéis desses dois setores foram os que menos sofreram durante toda a crise, alguns, inclusive, ainda conseguem subir, os investidores estão tirando tais ações de suas carteiras e substituindo-as pelos papéis de commodities, que estão entre os que mais apanharam nesse tempo todo. "Nessa hora de rali de curto prazo, em que vale o fluxo e não os fundamentos, obviamente que serão os papéis que mais caíram que devem apresentar as maiores altas", diz o diretor de uma corretora. Ontem, as PNA da Oi (ex-Telemar) caíram 8,75% e as PN da Brasil Telecom, 7,88%. Já as PNB da Copel tiveram queda de 5,15% e as PNB da Eletrobrás, 4,04%