Barrados no IPO Visanet
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Algumas corretoras foram barradas para o IPO Visanet. Siga a matéria:
Em meio à badalação em torno daquela que promete ser a maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do mercado brasileiro, de cerca de R$ 10 bilhões, os investidores de varejo foram surpreendidos pelo descredenciamento de 19 corretoras da operação da Visanet. O coordenador líder do IPO, o Bradesco Banco de Investimentos (BBI), tomou a iniciativa no último dia de reservas, para não correr o risco de ter a operação adiada após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) identificar irregularidades no material publicitário divulgado pelos distribuidores.
Do "pool" de distribuição, inicialmente formado por 79 corretoras, saíram grandes nomes, incluindo as corretoras que estão debaixo do conglomerado Bradesco, a Bradesco Corretora e a Ágora. Outras relevantes no atendimento à pessoa física foram ABN Amro Real, Ativa, Unibanco Investshop, Alfa, Coinvalores, Corretora Geral, Souza Barros, Elite, Fator, Finabank, Gradual, Hencorp, Icap, Intra, Solidus e Umuarama. Geração Futuro, XP Investimentos e Banif já haviam sido afastadas na semana passada pelas mesmas razões. No conjunto, são instituições que representam perto de 50% do varejo brasileiro, com potencial de levantar cerca de R$ 350 milhões, ou quase 5% da oferta.
Sob pressão do regulador, o BBI puniu as corretoras que considerou estarem em desconformidade com a regra de que todo material publicitário tem de ter aprovação prévia da CVM, mas não ampliou o prazo de reservas. Isso quer dizer que quem encomendou as ações por qualquer uma das instituições desabilitadas teve seu pedido cancelado e foi obrigado a bater às portas de outra casa na última hora. Como o processo de abrir conta numa corretora não é simples e requer a mesma documentação envolvida na abertura de uma conta bancária convencional muita gente ficou de fora.
Para se ter uma ideia, na Gradual Corretora, que detém uma participação pequena no home broker, de 1,6% pelo ranking de maio, cerca de 2 mil investidores tinham feito reservas, num total de quase R$ 50 milhões. O que dizer da Ágora Corretora, com uma fatia de 20% do mercado? "Teve aplicador que tirou dinheiro da renda fixa para dar como garantia e foi avisado na última hora que não vai participar", diz Marcelo Smarrito, diretor da Gradual. Ele não questiona a CVM, mas diz que os maiores prejudicados foram os investidores. "Eu preferiria não ganhar um centavo na oferta, mas atender o cliente."
Abrir mão de receitas após um momento complicado de mercado, em que os volumes na bolsa caíram drasticamente, só voltando a se recompor recentemente, é mesmo um soco no estômago das corretoras. Considerando-se a taxa de colocação, de 0,8%, e a de corretagem, de 0,5% (quando não se adota a tarifa fixa) o volume potencial que as desabilitadas arrecadariam esbarraria nos R$ 5 milhões. Mas, como destaca Smarrito, o efeito final é que a corretora perde o cliente não só no IPO, como também pelos próximos dez anos pela quebra de confiança.
A sanção em massa teria ocorrido após a XP Investimentos ter sido desabilitada na semana passada e encaminhado ao BBI uma carta questionando a decisão. No documento - ao qual o Valor teve acesso -, a corretora explica ter reproduzido informações que já constavam na sua página na internet e enviado aos clientes por e-mail. Considerou que, para tanto, não precisaria de aprovação específica da CVM e que outras instituições tinham conteúdos similares em seus sites. Nos anexos, a XP coloca a própria mensagem e de outras seis corretoras, que estão entre as descredenciadas.
O diretor-geral da XP, Guilherme Benchimol, confirma o envio da carta com cópia à CVM, mas diz que a intenção não era denunciar as concorrentes. "Quisemos apenas mostrar que o material era similar às demais, nunca pensamos em dizer que alguém estava agindo errado", diz. Segundo ele, o material enviado aos clientes da XP era factual e meramente informativo "como o das demais corretoras", e portanto a punição exagerada, prejudicando parte dos 40 mil clientes da casa que poderiam se interessar pela oferta.
O superintendente de Registros de Valores Mobiliários da CVM, Felipe Claret da Mota, explica que toda comunicação com o investidor tem de ser previamente aprovada. Cabe ao coordenador líder enviar as minutas de mailing, de carta e folders para avaliação prévia. Após esse trâmite, a corretora coloca o seu logotipo sem mudar o padrão. Claret não dá exemplos, mas diz que houve casos gritantes. "O material tem de trazer uma linguagem equilibrada, apontar os riscos e não ser um estímulo demasiado para a compra, pois o investidor pode não ter sucesso, não há garantia de que vá ganhar dinheiro."
À instituição líder cabe o descredenciamento dos que teriam cometido exageros, mas Claret admite que se a iniciativa não fosse tomada, a operação poderia ser suspensa. Para não correr o risco de colocar a oferta num mau momento de mercado, a decisão do BBI foi pela desabilitação em massa. Agora, cada uma das corretoras responderá a um processo administrativo sancionador na CVM.
Segundo um executivo de uma corretora ligada a um banco médio, alguns casos de publicidade foram realmente gritantes. Ele conta que uma instituição encaminhou e-mail para os clientes não só avisando sobre a oferta, como também recomendando a compra e indicando o preço que o investidor deveria colocar na reserva.
A interpretação geral é a de que ao excluir as corretoras especializadas no atendimento à pessoa física, excluiu-se o pequeno investidor da oferta. Já se avalia também que, apesar do grande número de prejudicados, haverá beneficiados - provavelmente, na operação de varejo não haverá rateio para os que conseguiram fazer o pedido. Já quem reservou mais ações do que pretendia contando com o rateio vai ter de levar tudo.
A avaliação no mercado é de que a visibilidade da operação teria feito a CVM ser mais exigente e os líderes a procurarem se certificar do sucesso da venda. Isso porque a demanda do institucional estrangeiro já teria superado em quase três vezes a oferta e não havia razão para tirar o brilho da operação por conta de problemas com o varejo local. A preocupação fica evidente quando se nota que, na primeira exclusão de corretoras, o banco já deixava claro que, independentemente de as corretoras apresentarem esclarecimentos satisfatórios à CVM, elas deixariam de integrar o "pool".
Fonte: Valor Econômico
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