terça-feira, 28 de outubro de 2008

Entrevista com Bill Gates

Pessoal, esta é um entrevista com Bill Gates, muito boa, acompanhe.

"Afastado de suas responsabilidades em tempo integral na Microsoft desde 27 de junho, Bill Gates, de 53 anos, dedica-se agora à fundação Bill & Melinda Gates, voltada para solucionar questões de saúde e de educação. Nesta entrevista, ele faz um balanço de suas realizações como empreendedor e discorre sobre o que espera realizar no mundo da filantropia.

O que pretende fazer daqui para frente? A maior mudança para mim – e que será, de fato, uma grande mudança – é que agora passo a me preocupar em descobrir meios para melhorar a vida dos mais pobres do planeta, quer suas necessidades te-nham a ver com educação, quer com a melhora da produção de alimentos ou tratamento médico de melhor qualidade. Não acho normal que as melhores invenções beneficiem apenas os 2 bilhões mais ricos: elas devem favorecer todos. Minha fundação se beneficia de uma riqueza que eu tive a sorte de ter, graças ao sucesso da Microsoft, e a repassa à sociedade, de modo que seu impacto seja o maior possível, principalmente para os 2 bilhões mais pobres do planeta. Meu amigo War-ren Buffett contribuiu com um aporte substancial de sua fortuna para a fundação.

Terei de me empenhar em tempo integral para conseguir atrair cientistas. Além disso, será preciso apostar em novas estratégias para ver o que funciona e o que não funciona. Sentarei à mesa com governantes do mundo rico para com eles discutir seus programas assistenciais, ou meios pelos quais poderemos trabalhar juntos para torná-los mais eficazes. É uma perspectiva que me enche de entusiasmo. Não é comum ter dois empregos tão bons: primeiro, na Microsoft, que foi ótimo, incrível mesmo, e agora essa nova atividade, tão interessante quanto a primeira.

Olhando em retrospecto, como o sr. avalia tudo o que fez? O que aconteceu me parece um pouco mágico. Sonhávamos com uma indústria de software e de ferramentas que dessem mais autonomia às pessoas. O computador pessoal tornou esse sonho realidade. Hoje temos uma indústria gigante de software, coisa que não existia 30 anos atrás. Temos 1 bilhão de pessoas que usam diariamente o PC. As possibilidades de uso dessa máquina são fenomenais.

Quando as pessoas se referem ao PC, pensam principalmente em produtividade. Talvez, mas eu penso no cego que tinha de esperar pela impressão dos textos em braille, e que agora pode surfar nas informações mais recentes da internet. Nas escolas, as crianças aprendem com mais facilidade graças ao computador. No trabalho, elaborar um documento não é mais uma tare-fa, e sim um serviço prestado ao consumidor. Há produtos que são feitos digitalmente, alterando drasticamente o custo e o tempo de produção. A Microsoft está no âmago de uma revolução que levou o software para o PC, para o celular, para o televisor e para o carro. A Microsoft ajudou milhares de empresas desse segmento a crescerem graças à plataforma criada por nós.

O sr. não se arrepende de nada? É claro que, olhando para trás, penso em algumas pessoas que recrutei, nas vezes em que agi de maneira inocente, nas aquisições que fizemos. Também penso nas coisas que poderíamos ter lançado mais cedo. Mas eu não mudaria nada, porque considero um sonho concretizado ter desempenhado um papel tão importante. Apren-demos no decorrer do processo, inclusive com nossos erros, porque fomos a primeira empresa a acreditar no computador pessoal. A indústria toda cresceu em torno do nosso sistema operacional Basic, depois com o MS-DOS e, por fim, com a família Windows.

Mas hoje o PC não é mais o centro de tudo. Estou me referindo ao software, e não ao PC, esse objeto incrível, que permitiu o surgimento da internet. Não devemos menosprezar o papel do PC, mas o que está em foco aqui é o software. Graças a ele, estamos revolucionando a TV, a forma como dirigimos nossos carros, a maneira de usar o celular. Ficamos propositalmente longe do hardware; no entanto, quando vemos esses novos computadores ultraportáteis desbancando os livros escolares, além de um grande número de PCs no local de trabalho, não podemos subestimar sua importância.

Mas a distribuição desse software evoluiu, interferindo no seu modelo de negócio. Houve grandes avanços nas interfaces gráficas e no alcance das aplicações pessoais permitindo ao usuário, por exemplo, enviar e receber planos de negócios a distância. Criou-se uma nova linguagem que nos permite fazer esse tipo de coisa. Tudo passa pela fibra óptica. Foi assim que a Microsoft surgiu, baseada na idéia de que os avanços nos segmentos de software e de hardware nos permitiriam ser mais ambiciosos. É por isso que, ao fundar a empresa, dizíamos sempre: “Um computador em cada casa e em cada mesa”.

Sua visão está se tornando realidade. Conseguimos prever algumas coisas que se concretizaram, e outras que deverão se tor-nar realidade nos próximos 20 anos. Grandes avanços continuarão a acontecer: reconhecimento de voz, tinta digital e lou-sas inteligentes ainda não são realidade – exceto no centro de pesquisas da Microsoft. Se um dia você nos fizer uma visita, ficará maravilhado. Por enquanto, essas coisas ainda são muito caras e sem grandes aplicações, mas é só uma questão de tempo.

Quanto tempo? Já há resultados práticos: o Microsoft Surface para touchscreens [telas que reagem ao toque do usuário] e o 3D para Nintendo. Com o Tell Me, pode-se pedir a um aparelho de telefone que disque um número. Contudo, ainda vai demorar uns dez anos até que todas essas interfaces estejam totalmente disponíveis. Nos Estados Unidos, os médicos já recorrem ao Tablet PC [computador ultraportátil equipado com uma caneta eletrônica] para tomar notas. Corretores de seguros utilizam fotos digitais e tinta eletrônica na elaboração de seus relatórios.

Que outras aplicações para essas novas interfaces o sr. imagina que haverá fora do segmento profissional? Não chegamos ainda ao ponto em que os estudantes, em vez de recorrer àqueles livros pesados, caros e desatualizados, poderão recorrer ao Ta-blet PC para fazer anotações em sala de aula, redigir, navegar pela internet. No entanto, todos os dias acordamos com uma pergunta na cabeça: que tipo de hardware e de software temos de ter para que isso se torne realidade? Sempre acre-ditamos que todo estudante deveria ter seu Tablet PC. Isso ainda vai demorar um pouco – será preciso criar programas específicos e contar com o apoio dos professores. Minha filha estuda em uma escola que há sete anos usa esse tipo de tecnologia.

Provavelmente o sr. teve alguma coisa a ver com isso. Em absoluto, pelo menos não pessoalmente. A Microsoft cuida disso. Mi-nha filha freqüenta essa escola há dois anos apenas. Contudo, experiências semelhantes estão ocorrendo em outros luga-res, como a Espanha, por exemplo. Em Cingapura, a experiência está bem avançada.

O ambiente competitivo mudou muito nos últimos 30 anos para a Microsoft. O sr. acha que o Google é a maior mudança com que sua empresa tem de lidar? Não. É como a eleição para presidente dos Estados Unidos: a cada nova eleição, dizem que se trata da mais importante da história do país. Isso é normal, porque o objetivo é mexer com as pessoas, deixá-las entusiasmadas, passar a elas a impressão de que se trata de uma escolha crucial. Já passamos por diversos momentos importantes na Microsoft. Criamos o Microsoft Office em meio a um ambiente competitivo muito difícil. Tivemos de vencer inúmeros desafi-os, e isso é uma das coisas bonitas nesse setor: é tão fácil abrir uma empresa porque, com o volume gerado pelas plata-formas da Microsoft, é possível comercializar produtos a um custo extremamente baixo, mas como seu volume é alto, há espaço para empreendimentos importantes.

Isso também significa mais concorrência para a Microsoft. É normal ver o surgimento de novas empresas com soluções muito específicas ou idéias radicais. A maior parte desses negócios não prospera. Outros, porém, se tornam bem-sucedidos. A concorrência sempre foi dura. A Microsoft atua em inúmeros mercados diferentes: banco de dados de sistemas, telefoni-a, videogames. Não temos um concorrente único. Na Microsoft, cada grupo sabe o que tem de fazer e está ciente de que seu trabalho produzirá um enorme progresso quando comparado ao que já existe.

Pode ser, mas desta vez o Google representa uma séria ameaça ao seu negócio. Não creio. A Microsoft atua nos seguintes seg-mentos: software, banco de dados, serviço de mensagens instantâneas. O Google não atua em nenhum deles. Na verdade, seu sucesso se baseia em uma coisa apenas: nos links patrocinados estampados nas páginas do seu mecanismo de bus-ca. O Google fez uma coisa incrível, é líder no seu segmento, mas espero que as pessoas sejam favoráveis à concorrência nesse setor, porque temos uma equipe brilhante que, diariamente, ao chegar à empresa, pensa em criar algo melhor.

O sr. acha que pode desafiar o Google nesse mercado? Estamos dispostos a investir e a apresentar novas idéias. Hoje, o seg-mento de busca na internet oferece links ao usuário. O usuário não quer links, quer respostas. A tecnologia pode ser me-lhorada. Quanto ao resto, o Google não conseguiu se impor nos mercados onde atua, mas consegue entrar neles graças aos lucros que obtém com as buscas feitas pelos usuários na internet.

Onde é que a Microsoft encontra os profissionais de que necessita atualmente para fazer frente a esses desafios? Procuramos profissionais de perfis variados, seja na área técnica, em marketing ou finanças. Contudo, o coração da empresa, obviamente, é a programação de software. Esse é o nosso diferencial: somos a maior empresa de software do mundo e nos sujeitamos a muitos riscos.

E dentro da empresa? É claro que temos pesquisadores fabulosos em Redmond, nosso quartel-general no estado de Washington. Acabamos de inaugurar um centro em Boston, temos outro na Califórnia. Estamos também na China e na Índia. A Microsoft está presente em todas as principais localidades. Fomos eleitos a melhor empresa para trabalhar. Se você contra-ta pessoas inteligentes, outras igualmente inteligentes também vão querer trabalhar na sua empresa. Nossas equipes de pesquisas se beneficiam dessa dinâmica. Fomos os primeiros a criar centros de pesquisa na China e na Índia.

Como é a relação da empresa com as principais universidades? Queremos ampliar nossa relação com as universidades. Que-remos derrubar barreiras. Isso é muito importante para nós porque boa parte da inventividade e das diversas experiên-cias ocorrem nas maiores universidades do mundo. Temos de atingi-las, trabalhar com elas para que tenham condições de financiar alguns de seus projetos, acolhendo também de bom grado seus alunos em nossos laboratórios. Praticamen-te um quarto de todos os candidatos ao doutorado em ciências do software passam algum tempo nos laboratórios de pesquisa da Microsoft.

Como o sr. está lidando com a escassez de engenheiros? O número de pessoas que opta por disciplinas científicas vem caindo em vários países. Na China e na Índia, porém, esse contingente vem aumentando. Isso significa que esses estudantes, futuramente, no momento em que forem procurar emprego, se sentirão tentados a mudar de país. Contudo, as políticas de imigração estão cada vez mais restritivas. Portanto, parte desse setor ficará na Ásia, onde estão os mercados de amanhã.

Como o sr. organizará seu tempo? Não vou abandonar a Microsoft, mas pretendo me dedicar em tempo integral à fundação."

Fonte: Época Negócios

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