segunda-feira, 1 de setembro de 2008

1929 e 2008 "Semelhanças sobre a crise financeira"

Olá,

Esta matéria é de abril/maio de 2008 falando sobre a crise de 28 e a que estamos passando atualmente. É interessante e no mínimo cultural para entendermos de um assunto que estudamos na escola.

Segue matéria:

Entre 1929 e 2008, semelhanças e diferenças

Analistas divergem se crise financeira nos EUA é comparável à quebra da bolsa que precedeu Grande Depressão

Com os desdobramentos da crise financeira americana cada vez mais evidentes nos dados de produção e emprego dos Estados Unidos, virou lugar-comum entre analistas comparar a turbulência atual com a forte queda da bolsa de valores em 1929, que precedeu a Grande Depressão dos anos 1930. Até mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em documento reservado obtido por agências de notícias na semana passada, fez essa comparação, argumentando que esta é a maior crise econômica dos EUA desde 1929.

Mas este paralelo está longe de ser unanimidade. Enquanto alguns economistas enxergam semelhanças entre as turbulências atuais e as de 1929, outros vêem crises de origem e natureza completamente distintas. Sequer é consenso que a crise atual seja, como alega o FMI, a maior já enfrentada pelos EUA desde os anos 30 ¿ no pós II-Guerra Mundial e nos anos 70 a economia americana enfrentou severas recessões.

Os analistas concordam, porém, que a crise atual está muito longe de adquirir a magnitude da Grande Depressão. Depois de quedas recordes na Bolsa de Nova York em 1929, cerca de dez mil bancos quebraram na década de 30. A depressão econômica levou um quarto dos americanos ao desemprego e teve efeitos no mundo inteiro.

A linha mestra é parecida

Para Aloisio Araújo, da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), há semelhanças entre 1929 e hoje. E esta é, sim, a maior crise desde a década de 1930. Mas Araujo não vê riscos de que os EUA sofram um efeito tão devastador em sua economia quanto o da Grande Depressão.

É possível traçar semelhanças entre a crise atual e a de 1929?

ALOISIO ARAÚJO: À primeira vista, são crises muito diferentes. Em 1929, houve corrida bancária clássica, com quebradeira de bancos. Hoje, o ambiente financeiro é muito mais complexo. E os bancos acabaram assumindo certa responsabilidade pelos instrumentos financeiros que criaram (reconhecendo nos balanços os prejuízos com hipotecas de alto risco). A regulação evoluiu, não teve ninguém correndo para pegar dinheiro na boca do caixa.

Mas o Bear Stearns quase quebrou e sofreu uma corrida de credores.

ARAÚJO: O Bear Stearns é um banco de investimentos. Talvez tenha havido uma corrida de grandes credores. Mas não se vê fila de pequenos clientes na porta dos bancos como em 1929. Hoje, nos EUA, todos têm seguro de depósito, algo que foi criado justamente após a crise de 1929. É um mecanismo semelhante com o que temos aqui no Brasil no Fundo Garantidor de Crédito no Brasil (FGC, que cobre até R$60 mil em depósitos à vista e poupança dos correntistas caso o banco quebre).

Os efeitos na economia da crise atual são parecidos com o que houve em 1929?

ARAÚJO: A linha mestra de contração de crédito, que leva a uma contração econômica, é parecida. Mas, se é verdade que esta é a maior crise desde 1929, sua magnitude não se compara com à da Grande Depressão. Seu efeito certamente não será tão devastador.

Em 1929, antes da crise nas bolsas, já havia sinais de desaquecimento econômico. Agora, a crise parece ter se iniciado no sistema financeiro. Isso é uma diferença?

ARAÚJO: Não dá para dizer se em 1929 foi uma crise de economia real ou financeira. As coisas ocorreram de forma concomitante. E, claramente, a corrida bancária agravou a situação econômica. Da mesma forma, alguns elementos da recessão americana de hoje não estão necessariamente associados à crise bancária. Os EUA vinham crescendo há muitos anos, era natural, pelos ciclos econômicos, algum freio. Havia ainda um processo de ganhos de produtividade, com os saltos tecnológicos, que pode ter chegado ao fim. E há desequilíbrios nos EUA, como o das contas externas.

Por que o senhor acredita, então, que a crise atual será mais suave?

ARAÚJO: As respostas à crise hoje são mais rápidas e na direção correta. As diferenças são maiores do que as semelhanças. Aprendeu-se muito com 1929, quando a primeira resposta foi no sentido errado, de restringir o mercado de crédito, porque não se compreendia seus efeitos multiplicadores na economia. Na crise atual, os bancos centrais agiram de maneira enérgica e rapidamente. Uma crítica que pode ser feita é que as autoridades não anteciparam os riscos dos novos instrumentos financeiros. Atuaram a posteriori, como uma lanterna na popa.

'Não há paralelo possível'
Corpo a Corpo - Reinaldo Gonçalves

Da Redação

Para Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, a crise atual é de natureza completamente diversa da Grande Depressão. Ele avalia que esta sequer é a maior crise desde 1929, já que os EUA enfrentaram uma profunda recessão no pós-II Guerra Mundial e uma grave crise com o choques de petróleo da décadas de 1970.

O GLOBO: É possível traçar semelhanças entre a crise atual e a de 1929?

Reinaldo Gonçalves: São situações completamente diferentes, não há paralelo possível, nem de natureza nem de amplitude das crises. O que em 1929 foi conseqüência, hoje é causa. Naquela época, antes da queda nas bolsas, em meados dos anos 1920, já se anunciava uma crise na economia real. Havia um excesso de capacidade de produção, que nos anos de 1928 e 1929 provocou uma retração dos investimentos privados, levando o país à recessão. A queda nas bolsas veio depois e se caracterizou por uma crise bursátil, de mercado de capitais. E não uma crise financeira como se vê hoje.

Qual é a natureza da crise atual, então?

Gonçalves: Hoje há uma crise no sistema financeiro, que teve origem no setor imobiliário. Essa crise está levando a problemas no lado real da economia, porque os consumidores estão contraindo seus gastos. Mas, tão logo haja uma regularização do lado financeiro, o lado real da economia melhora. As crises mais profundas do capitalismo não têm origem no lado financeiro, e sim na economia real. O que importa é produção, renda e emprego.

As respostas à crise atual, então, são diferentes às políticas adotadas em 1929?

Gonçalves: Certamente. Em 1929, o governo a princípio se manteve apático, não houve políticas pró-ativas. E o New Deal (política do presidente Franklin Delano Roosevelt de fazer obras públicas para gerar empregos) apenas suavizou a crise. Ao contrário do que os keynesianos (defensores das idéias do economista britânico John Maynard Keynes que, em 1936, com base na experiências das políticas de Roosevelt, defendeu os gastos públicos como incentivo à economia) gostam de dizer, não foi o New Deal que tirou os EUA da crise. E sim os esforços pela entrada dos EUA na II Guerra Mundial. A economia americana ficou dez anos no buraco.

E hoje, qual será a saída para a crise?

GONÇALVES: A crise atual tem origem na desregulamentação excessiva do sistema financeiro. Em 1929, não havia isso. Pelo contrário, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) havia sido criado em 1913. As medidas adotadas hoje, como a redução de juros, a injeção de crédito e o corte de impostos, são importantes, mas a crise atual só será solucionada com a re-regulamentação do mercado financeiro, política que foi anunciada apenas este mês (no pacote do secretário do Tesouro, Henry Paulson). Se a Guerra do Iraque tivesse começado agora, em vez de em 2003, com seus US$ 500 bilhões em gastos militares, haveria um estímulo econômico adicional.

O senhor acredita que a crise atual é a maior que os EUA já enfrentaram desde 1929? GONÇALVES: De forma alguma. Os EUA enfrentaram grave recessão no pós-II Guerra Mundial. Depois houve a crise dos anos 1970, com o primeiro choque do petróleo. Foram crises muito mais intensas.

As Imagens das Crises
Famílias desempregadas

Da Redação

Crise de 1929: A crise não distinguiu a elite dos mais pobres. O desemprego atingiu quase um quarto dos americanos, levando famílias inteiras, incluindo crianças (foto menor) a buscar trabalho. Mais de mil bancos fecharam em 1930 e houve forte desvalorização de preços de bens de consumo. Cenas como a venda de carros a US$ 100 (foto maior) eram comuns

Operadores, a nova cara da turbulência

Crise das Hipotecas: Com origem no setor imobiliário, um dos primeiros efeitos da crise foram os arrestos de imóveis de mutuários inadimplentes (ao lado em baixo). Logo a turbulência afetou o setor de crédito, e bancos registraram perdas bilionárias, levando operadores da Bolsa ao desespero, a nova cara da crise

Fonte: JORNAL O GLOBO

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